Se eu fechar os olhos agora!

          Nesses dias de quarentena estou aproveitando para ler algumas obras, romances e pesquisas que sempre tive vontade, mas faltava-me tempo. Nisto, li o romance Se eu fechar os olhos agora,  do escritor/jornalista Edney Silvestre. O autor é repórter da rede globo e foi durante muito anos correspondente da emissora em Nova York 
           Sempre quis ler romances ou contos de autores brasileiros contemporâneo, pois para além dos escritos cânones da nossa literatura, é bom valorizar as obras literárias do tempo presente, pois nelas estão muitas imagens e reflexões sobre quem nós somos e sobre a sociedade em que vivemos. 
         Trata-se do primeiro romance do autor, que já iniciou com uma obra laureada com o prêmio jabuti.  O livro já encontra-se na 4º edição, pelo menos na edição que tenho, de 2001.
        A voz narrativa se dá em terceira pessoa e intercala em capítulos com recortes temporários distintos. A estória acontece na descoberta de uma mulher brutalmente assassinada num matagal pelos garotos Eduardo e Paulo, amigos de infância, isto no interior do Rio de Janeiro , nos anos de 1960. Os meninos vai desconfiar do desfecho da investigação da morte da mulher e vão por conta própria analisar o caso e nisto encontram Ubiratan, um senhor, que vai  ajudá-los. Este encontra-se num asilo e foi no passado preso, junto com sua esposa, na época na ditadura de Vargas.
         Esse é o enredo do romance e que tem um final excelente, marcado pela imprevisibilidade e o inclemente passar do tempo, que desanuvia os acontecimentos das nossas vidas.
       É um romance de enrendo,  de uma estória simples e muito bem contado, sem chavões ou esteriótipos. O bom são os detalhes trazidos pelo narrador da época dos acontecimentos, os valores, os sabores e as características  da sociedade do interior brasileiro dos anos de 1960. Desvela-se também os mecanismos de poder das grandes famílias e de suas vinculações políticas, em que as meninas e as mulheres são objetos de satisfação pessoal dos senhores ricos. Também denota-se o machismo renitente na qual as vidas das mulheres pobres valem menos e são descartáveis, nessa lógica do Brasil das famílias poderosas e detentoras do poder político, isto mais latente em regiões interioranas. Como diz o velho comunista Ubiratan: "Aparências enganam. Mais cedo ou mais tarde vocês irão prender. Nada neste país é  o que parece". (SILVESTRE,2001, p.84). 
Basta lembrar da morte do Juiz Teori Zavascki e da facada sofrida pelo atual presidente. 
          




   Enfim, um  bom livro e agradável. Longe de ser uma obra-prima, apesar que tal adjetivação é algo bem pessoal, que vale apena acompanhar os  dramas de Eduardo, Paulo e Ubiratan e da busca por justiça por Aparecida/Anita. 


Fonte: SILVESTRE, Edney. Se eu fechar os olhos agora. 4ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 






         

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