Purificar e destruir: os usos políticos dos massacres e dos genocídios


O sociólogo francês Jacques Sémelin escreveu o exuberante livro "Purificar e destruir: os usos políticos dos massacres e dos genocídios" (2009). Resultado de mais dez anos de estudos, o tema central é a reflexão em torno das razões que legitimam a matança em massa de seres humanos, além disso, tenta-se compreender o processo de sofrimento imposto a determinados grupos sociais e da passagem da ideia de eliminação ao ato efetivo. Para tanto, Sémelin escolhe três experiências de destaque no século XX, a saber: o nazismo, o projeto da grande Sérvia de Milosevic (Iugoslávia) e a tragédia de Ruanda ( o massacre dos Tútsis). 

Nesta perspectiva, temos um estudo comparativo de fôlego no qual se costura as semelhanças e os termos centrais que dão subsidio ao genocídio, assim como as diferenças dos eventos escolhidos. No final temos uma pertinente reflexão em torno da banalização do conceito de "genocídio", termo inventado pelo jurista Raphaël Lemkin, em 1944. 

Apesar de ser um livro longo, a leitura é prazerosa, tendo em vista que a narrativa é bem construída, bem escrita e de ideias claras. Constata-se também a maturidade das reflexões e das excelentes questões postas durante todo o livro. 




Por fim, na minha leitura, constatei que Sémelin indica que a civilização e a cultura em sim mesmas não se configuram enquanto uma barreira contra a barbárie, ao contrário, sendo manipuladas, elas a justificam racionalmente, mesmo que seja uma razão "delirante". Em tempos de ascensão do fascismo no Brasil e no mundo, a obra "Purificar e destruir" é de leitura urgente!


Definir-se como "puro" implica, na prática, categorizar um "Outro" como impuro. A acusação de impureza constitui uma incriminação universal contra quem se pretende massacrar (SÉMELIN, 2009, p. 62). 


Fonte: SEMELIN, Jacques. Purificar e Destruir: usos políticos dos massacres e dos genocídios. Trad. de Jorge Basto. Rio de Janeiro: Difel, 2009.   





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