Um grão de trigo, um clássico da literatura queniana e africana!


Ngũgĩ wa Thiong'o é um dos escritores africanos mais conhecido no mundo. Desde quando publicou seu livro "Um grão de trigo" (1967), seu nome já foi cogitado ao nobel de literatura. Premiado mundo afora, tal autor é complexo e instigante.

Esse queniano fez da arte literária sua arma de reflexão para compreender e lutar no processo de descolonização de seu país (Quênia) dos ingleses; assim como em prol de uma sociedade queniana mais justa e solidária.

Em 1977, Thiong'o foi preso numa penitenciária de segurança máxima em Nairóbi por ter escrito uma peça de teatro que criticava o governo queniano e por tê-la escrito no idioma gikuyu. Preso, tomou a decisão de não mais escrever em inglês e adotar sua língua de origem: gikuyu.
Mesmo nessas condições adversas, escreveu, em papel higiênico, o romance “The Devil Along the Cross”. Infelizmente não traduzido no Brasil, aliás, o autor é pouquíssimo disponibilizado em português.




Mas no magistral "Um grão de trigo", temos um dos grandes romances da literatura africana do século XX. A narrativa tem como pano de fundo o processo de independência do Quênia (1963) e seus desdobramentos sociais e culturais.

O personagem central é Mugo, homem solitário e taciturno, que é tido como grande herói da aldeia de Thabai, supostamente ao lado de Kihika, mártir da luta contra a opressão inglesa, lutaram e ficaram presos em campos de detenção, sem nunca delatar os companheiros.

O tom da narrativa é complexo no início, pois o leitor só juntar os fios do enredo no meio do romance e o final é surpreendente. Os personagens são complexos, contraditórios, hesitantes, capazes de grandes feitos e de mentiras reveladoras.

A trajetória de Mugo é o leitmotiv da estória; eis um personagem com várias camadas, misterioso, encantador. Faz-nos refletir como a história é uma série de contingências de acasos sobrepostos, de ocupações de espaços e de posições não planejados e/ou almejados, que com o passar do tempo recebe um sentido, uma direção, um telos, nos quais as pessoas acabam por acreditar e reproduzir como verdades absolutas.

Esse personagem parece ser uma metáfora das contradições dos projetos de liberdades e de sociedade gestados por aqueles que assumiram o poder após a independência do Quênia, algo extensivo para outras experiências africanas.

Um Grão de trigo é um extraordinário romance de enredo, de uma narrativa fascinante, que desnuda as ilusões de certo idealismo que nutrimos por pessoas, ideologias e "outras verdades". Eis um livro belo, tocante e marcante




Fonte:  THIONGO, Ngugi Wa. Uma Grão de Trigo. Trad. de Roberto Gray. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017. 

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