Os negros da América Latina


O belo livro "Os negros na América Latina", de Henry Louis Gates Jr, foi publicado no Brasil em 2014. O autor é professor da Universidade Harvard - EUA. Trata-se de um dos maiores especialista em história da diáspora africana do seu país. O texto se origina de uma série de documentários apresentados na TV pública dos Estados Unidos em 2010, aliás, bastante elogiada pela crítica especializada. A obra em questão traz breves e valiosas informações sobre as peculiaridades e semelhanças das relações raciais de seis países da América Latina, a saber: Brasil, México, Peru, Haiti, Cuba e República Dominicana (Uma pena a ausência da Colômbia). A narrativa ágil, clara e direta é um deslumbre para o leitor! 






Entre tantos aspectos interessantes trazidos por Gates Jr, podemos destacar alguns: A construção da identidade nacional alicerçada na ideia da mestiçagem sobrepujando a identidade racial e suas respectivas tensões sociais se encontram, à sua maneira, presentes nestes países. Por exemplo, se por uma lado, temos a "democracia racial", de Gilberto Freyre no Brasil, é sintomático que no México e no Peru tenha se decidido eliminar a referência ao quesito "raça" no atestado de nascimento, bem como a referendar a concepção da "raça cósmica", de José Vasconcelos (México).

O espanto de Gates ( norte-americano - da tradição étnico-racial binária entre "preto" e "branco" sustentada na concepção da regra da "gota de sangue") ao se deparar com o variado números de termos e categorias aplicados aos negros e mestiço na América Latina. Nisto, vale apena conferir com a atenção o apêndice com tais categorias utilizadas. Por sua vez, uma constatação importante se refere ao fato de que negros e mestiços continuam a engrossar os níveis mais baixos da sociedade dos países analisados, com efeito, o autor deixar como desafio a proposta de se encarar estas desigualdades a partir do recorte étnico-racial. 

Enfim, um livro convidativo para quem se interessa sobre as relações étnico-raciais na América Latina!

Trecho:

"Após dilatados períodos de “embranquecimento”, várias dessas mesmas sociedades iniciaram períodos do que chamo de “mestiçagem”, exaltando e reconhecendo suas raízes trans e multiculturais, declarando-se singulares justamente devido à extensão da mistura racial de seus cidadãos. (A abolição de “raça” como uma categoria oficial nos recenseamento federais de alguns países que visitei, como o México e o Peru, tornou extremamente difícil para as minorias negras exigir seus direitos). O trabalho de José Vasconcelos, no México, de Jean Price-Mars, no Haiti, de Gilberto Freyre, no Brasil, e de Fernando Ortiz, em Cuba, formou uma espécie de quarteto multicultural, mesmo que cada um deles tenha abordado o tema de perspectivas diferentes, embora correlatas. Todavia, as teorias de “mestiçagem”, abraçados por Vasconcelos, Freyre e Ortiz, podiam ser faca de dois gumes: valorizam as raízes negras de suas sociedades, mas, às vezes, pareciam "denegrir" implicitamente a importância dos artefatos e das práticas culturais negras fora de uma ideologia da mestiçagem" (GATTES JR, 2014, p.26-27).



Fonte: GATES JR, Henry Louis. Os negros na América Látina. Trad.Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Companhia das letras, 2014.

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